A principal missão da política é diminuir a desigualdade social. Porém, não é o que tem acontecido na Serra. Enquanto há bairros onde sobram investimentos públicos milionários, há outros em que o descaso e a desconsideração chegam a ser injustos e desumanos. É o caso de Belvedere, bem próximo à sede da prefeitura, onde falta tudo: desde o saneamento básico à pavimentação.

            O morador Giovane Antônio da Silva, que há sete anos reside no local, tornou-se um Faz-Tudo. É ele quem providencia o que a comunidade precisa. Ergue cercas de proteção, constrói valas para o escoamento de água (que deveria ser liberada de forma encanada para bueiros) e até mesmo contrata serviços de patrol para tornar possível a passagem de automóveis.

            O custo dos serviços sai do próprio bolso. Às vezes, também do bolso de outros moradores. “Ficar intransitável não dá. Quando vim para cá, só subíamos a pé. De carro era impossível. Até o carro de material de construção tinha que deixar o material lá embaixo. Pagávamos alguém pra colocar as coisas no carrinho e puxar”, recorda-se.

            Giovane conta que já se encontrou uma única vez com o prefeito Audifax, numa reunião com cerca de 40 pessoas. “Nem pedi calçamento. Solicitei máquinas para melhorarem as ruas porque não dava para transitar aqui. Ele me disse que não poderia porque uma máquina estava sem motor. Outra estava sem lâmina. E não tinha operador”, disse.

            Giovane se sentiu envergonhado. “Fiquei com vergonha de estar num município com arrecadação tão rica ter uma população tão carente que não pode contar nem com uma máquina na rua. Até Fundão que é pequena não passa por isso”, lamentou.

            Para Giovane, saber que Laranjeiras está recebendo mais uma obra, orçada em R$47 milhões, enquanto há outros bairros com o mesmo descaso de Belvedere, é muito triste.