Família de bebê morto na UPA de Carapina vai à Justiça por omissão de socorro
Avó da criança de dois meses passou a madrugada em idas e vindas à UPA. Médica alegava que internação não era necessária, até que a criança chegou morta, foi reanimada para apenas então ser internada, mas não resistiu e faleceu poucas horas depois. Família está reunindo documentação para dar entrada numa ação judicial: "Minha filha poderia estar comigo agora", lamentou o pai Lorran Henrique.
Uma dor impossível de se explicar. Uma criança desejada, a longa espera dos nove meses de gestação, enxoval preparado, quarto montado e a morte precoce aos dois meses de idade. A pequena Anna Micaelly Souza Nascimento faleceu no dia 25 de julho às 10h04 na UPA de Carapina, depois da família passar a madrugada em idas e vindas de casa à unidade de emergência, insistindo por uma internação. Para a família, houve negligência médica e despreparo na contratação de médicos inexperientes. A Justiça está sendo acionada.
O problema começou na sexta-feira, quando às 17h15, Ana apresentou febre de 40 graus. Seus pais lhe deram um banho, 5 gotas de dipirona e foram até a UPA de Carapina. Chegando lá, foram atendidos sem demora. A médica perguntou o que a criança tinha. Estava chorando muito. Foram feitos exames de urina e sangue. A família permaneceu no local até 1h da manhã, já sábado, aguardando os resultados. Foram liberados.
Em casa, a criança não tinha mais febre. Mas não parava de chorar. Gemia sentindo algum tipo de dor. A família retornou à unidade, às 4h20. Outra criança estava no local, correndo e brincando e foi internada. Anna foi liberada. “Alegaram que ela tinha apenas dor de barriga. Passaram luftal (simeticona) e a liberaram novamente”, explicou a avó da criança, Michelly Rosa Luiz Nascimento.
Chegando à casa, a situação ficou ainda pior. Ao ver que a neta não parava de gemer, Michelly levantou sua roupinha para trocar a fralda. Percebeu então que a criança apresentava muitas pintinhas roxas pelo corpo. “Decidimos retornar à UPA por volta das 6h20. Perto de Jardim Limoeiro, minha neta estava com a boca roxa. Falei pra ligarem para uma ambulância porque a respiração dela estava fraca. Comecei a fazer uma massagem nela, mesmo sem entender, porque vi que ela estava morrendo”, recorda-se.
Ao chegar no hospital, Anna MIcaelly parecia já estar sem vida. “Desci correndo com ela. Nem esperei estacionar. Tomaram a menina da minha mão, conseguiram reanimá-la e a entubaram. Mas ela não resistiu e faleceu às 10h04. Posteriormente, disseram que foi de meningite”, lamentou a avó, informando que o velório aconteceu de caixão aberto.
Para Michelly, a criança poderia ter sobrevivido se não fosse liberada para casa. O pai da criança, Lorran Henrique, se desesperou. “Minha filha não teria morrido se a equipe da UPA de Carapina não fosse despreparada. Não é a primeira vez que isto acontece. Estão colocando médicos novos para aprender a trabalhar. Por que não a internaram? Se a tivessem internado às 4h, ela poderia estar viva agora”, disse.
A bebê foi sepultada no domingo, às 13h. A família pediu o prontuário de atendimento e laudo da perícia, que saiu nesta segunda (03). Com base nos documentos, a família procurou a delegacia para registrar um boletim de ocorrência. “O vereador Pastor Ailton está nos auxiliando com advogado”, disse a avó.
“É a terceira notícia que tenho de omissão de socorro na UPA de Carapina. Enquanto não houver um grito, histórias como esta vão continuar acontecendo. Terceirizados sem experiência estão sendo contratados. Com vida não se brinca”, disse o vereador.
“Se nós não a tivéssemos levado à emergência, iríamos ser taxados de negligentes e poderíamos até estar presos agora. Mas e neste caso, o que será feito? Insistimos a madrugada inteira dizendo que algo não estava normal e a médica insistia em dizer que a neném estava bem. Se ela desse uma atenção, minha filha não teria morrido”, disse Lorran.