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Reflexões sobre as ações governamentais em torno do coronavírus na visão de um médico: Entrevista com o deputado Sérgio Vidigal

Reflexões sobre as ações governamentais em torno do coronavírus na visão de um médico: Entrevista com o deputado Sérgio Vidigal

O deputado federal Sérgio Vidigal fala sobre as ações implantadas pelo Governo Federal, Governo do Estado do Espírito Santo, governo municipal de Serra, cidade onde mora e que já administrou por 12 anos, além de seus projetos de lei em torno do assunto, na Câmara de Deputados.

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Deputado Sérgio Vidigal, o assunto do momento é o coronavírus.Gostaria de saber a sua opinião como médico das ações que estão sendo desenvolvidas no país pelos governos Federal, Estadual e Municipal. Pensando em município, vamos falar de Serra, que o senhor administrou por tantas vezes e é onde tem sua residência.

Primeiro é bom lembrar à população que corona vírus é um novo vírus, que pouca gente conhece, tanto que ainda não temos vacina para ele. Porque o melhor tratamento das viroses são as vacinas. Prova disso é a vacina contra rubéola, catapora, sarampo, gripe... conseguimos erradicar estas doenças através das vacinas. Porque o vírus tem uma capacidade muito grande de mutação. A prova que ele muta com tanta facilidade é que temos que tomar a vacina contra a gripe todos os anos. Porque a vacina que serve para um ano, ela não serve para o ano subsequente.

Com o corovavírus não é diferente. Porque ele tem todos os sintomas de uma gripe. E de que forma nós estamos enfrentando tudo isso? Acho que nós tivemos algumas vantagens que outros países não tiveram. Nós fomos informados previamente que tinha o coronavírus porque ele não começou aqui, começou lá na Ásia, depois na Europa, então nós tivemos tempo para nos preparar.

Não me parece que a gente aproveitou muito essa oportunidade. E a gente no fundo, no fundo só começou a se movimentar a partir do momento em que as pessoas estavam se contaminando e muitas vidas indo. Eu diria que houve uma certa omissão ou falha, não sei muito bem o termo, por parte do Ministério da Saúde.

Porque se o Sistema Único de Saúde (SUS) que rege os procedimentos e protocolos no Brasil inteiro, é orientado pelo Ministério da Saúde (MS), era também para ser orientado pelo MS todos os procedimentos e orientações das secretarias estaduais e municipais de Saúde.

Como nós somos um país federado e todo mundo tem suas competências e autonomia, nós acabamos fazendo uma coisa que é muito ruim. Dando autonomia sem orientação para que cada estado e município fizesse seu procedimento. A ponto que municípios vizinhos tinham procedimentos diferentes. Eu diria que faltou um pouco mais de responsabilidade por parte do MS na orientação aos estados e municípios como proceder nesta pandemia. A última que temos conhecimento foi há mais de cem anos atrás, a gripe espanhola.

A população está sabendo fazer o seu dever de casa?

É aquilo que eu falei. Como o vírus é invisível, muitos acham até que ele não existe. Outros acham que vai pegar no vizinho e nele não. Até porque qual é a estatística mundial das viroses? 50% da população não será contaminada. Da metade que será contaminada, 80% não terão sintomas. Eles serão simples, leves. Então eu acho que a população acabou não acreditando muito na virulência dessa pandemia.

Então a população de forma geral – até por falta de orientação dos nossos líderes, porque cada um falava uma coisa e até transformaram isso numa questão ideológica, que é um absurdo – nós temos que separar Ciência da Política e da Religião, pois são todas ações diferentes. E respeitar a Ciência, porque se a Ciência não tivesse valor, a gente podia ficar com um curandeiro. Não precisaríamos da figura de um hospital, de um médico, de remédio. Então temos que respeitar a Ciência. E a gente não respeitou muito a Ciência. Mas a culpa não foi da população. Talvez foi dos nossos líderes. Acabou não tendo uma convergência nas ações.

O Coronavírus foi sua pauta por diversas vezes na Câmara. O senhor legislou a respeito também.

A gente aprovou muitos projetos e tem muitas propostas ainda tramitando mas são todas paliativas. Elas na verdade não erradicam a doença, não enfrentam a doença, elas apenas protegem um pouco mais o cidadão a respeito da Economia, em relação a algumas ações na área da Saúde, da Educação. Então a gente acabou apresentando alguns projetos na Câmara Federal. Mas nada que vá erradicar essa pandemia no Brasil. O que vai erradicar a pandemia chama-se vacina.

Mas tem vários projetos. Tem projetos nossos que foram aprovados que postergam o prazo dos concursos públicos, que não permitem que esta vaga que foi oferecida em concurso seja ocupada temporariamente por ninguém. Essa vaga é dessa pessoa que passou, a não ser que não tenha condição de contratar alguém.

E também se for algum serviço emergencial porque aí não pode esperar. Garantimos também que os familiares possam ter acesso a seus pacientes através de informação online através dos hospitais onde os parentes estão internados. Garantimos que os professores possam a cada duas semanas, seja da rede pública ou privada, fazer seus testes quando houver flexibilização em relação ao coronavírus.

Então tem uma série de ações de projetos que foram aprovados mas muito mais como forma paliativa e proteção, nenhuma delas de forma de erradicação da doença porque isso depende da prevenção através de vacina, do uso de proteção através de máscaras, assepsia que é fundamental, na hora de se alimentar lavar os produtos.

Nós costumamos não ter muito cuidado. Eu tenho dito que o corona vírus trouxe novos hábitos para a população. Não é que eles não eram desnecessários mas eram imperceptíveis para a população.

O senhor acredita que a gente vai voltar ao normal em breve, ou vai demorar e que haverá um novo normal?

É, eu acredito que haverá um novo normal. Eu acho que aquilo que a gente vivenciava antes, pelo menos a curto e médio prazo, não vejo a perspectiva de ocorrer. Até porque a pandemia vai nos adaptar a um novo modelo e padrão de vida, até as profissões. Tem muitas profissões que vão desaparecer depois do coronavírus e outras novas profissões vão surgir. Algumas atividades econômicas vão se fortalecer. A figura do home office. Ninguém acreditava que isso fosse funcionar e agora funciona. Delivery, não é coisa nova. Mas começaram a enxergar...

O setor público começou a enxergar que ele está muito atrasado na implantação de ferramentas tecnológicas pra se comunicar com a sociedade. Isso faz com que o setor público faça uma revisão no seu modelo de gestão. Então eu creio que esse novo normal vai acabar também trazendo novas ações para a sociedade e com certeza mais modernidade também seja ela na vida pública ou no setor privado.

Muito obrigada.   

Eu que agradeço.

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