Dono de um currículo extenso, com doutorado e diversas especializações médicas, Gustavo Peixoto Soares Miguel quer ser prefeito da Serra. “É minha cidade-mãe. Vi Serra evoluir de município rural para industrial e comercial. Quero ver a Serra 4.0, digital, com tecnologia garantindo qualidade de vida para a população", disse.

Com 47 anos, católico, casado, pai de três filhos e dois enteados, o médico garante que tem experiência técnica e administrativa e está pronto para encarar os desafios do momento pós-pandemia. “O importante é ter bom caráter, fé em Deus e responsabilidade”, garantiu quem acredita que seu maior desafio nas urnas será vencer o também médico Sérgio Vidigal, que foi competente e ofereceu a Serra uma mudança estrutural.

 “Sou o único candidato com experiência de luta de rua. Em 2013,  montei o sistema de transplante de fígado e de cirurgias bariátricas no SUS na região e saí do consultório para as ruas para lutar contra o desvio de verbas públicas. Fui líder estadual do movimento Vem Pra Rua, participando de manifestações nacionais que culminaram no impeachment da Dilma. Por isso fui candidato a deputado federal com 37.500 votos em 2018. Defendo a Lava Jato e o combate à impunidade”, afirmou.

Por que quer ser prefeito da Serra?

Tive uma infância toda na Serra Sede, ao mesmo tempo que passava as férias em Nova Almeida. Cresci entre estes dois bairros. Na década de 60, 70 era outra Serra. Presenciei a evolução da Serra de um município agrícola para um município industrial. Depois disso me formei médico pela UFES, depois fui para São Paulo, onde fiz residência em Cirurgia Geral, em aparelho digestivo, em transplante de fígado, Mestrado, Doutorado, e posteriormente o MBA em hospitais públicos.

Voltei para o Espírito Santo e tive a oportunidade de trabalhar em grandes hospitais, empresas, e ao mesmo tempo me tornei professor do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal. Então tenho o viés de médico e de docente.

Ao longo destes últimos 18 anos (voltei em 2002), pude ocupar cargo nos setores público e privado além de técnico como médico e docente. O que vejo hoje na Serra? Um município grande, pujante, que necessita de características onde posso contribuir de forma muito efetiva. A Serra precisa de inovação, de empreendedorismo e de um choque de tecnologia para facilitar tanto a Educação quanto a Saúde e sinto que posso contribuir para minha cidade-mãe se tornar um ambiente muito melhor para nós cidadãos vivermos.

Apesar da pujança que Serra tem no parque industrial, não vemos o mesmo desenvolvimento social que acompanhe. Nós podemos traçar, planejar e criar uma nova cidade, nova Serra, um ambiente muito melhor para negócios e para viver com qualidade.

Como avalia a atual gestão?

Uma gestão técnica, responsável, comprometida. O prefeito Audifax é um gestor competente, dedicado. Mas aparentemente esgotou nele e na equipe as ideias que podem ser implantadas. Já deu sua contribuição e está na hora de escrevermos novos capítulos para a cidade ligados à tecnologia, acessibilidade, qualidade de vida da população, empreendedorismo tanto de pequenas quanto de grandes empresas, revisão do projeto ambiental como um todo, revitalização do nosso turismo. Ele está fechando seu ciclo de contribuição.

Segurança e Saúde são os principais problemas da Serra. Como pretende lidar com a questão?

São duas demandas importantes da Serra. Duas questões bem distintas. Saúde, nós temos que reestruturar todo nosso atendimento. Não há sentido nenhum uma pessoa acordar 4h, ir para frente de uma unidade para pegar uma ficha e agendar uma consulta. A pandemia nos mostrou que é possível dar aulas online e realizar consultas por telemedicina. Não faz sentido esse fenômeno ainda acontecer e ser frequente. Precisamos de Saúde 4.0. Que o prontuário eletrônico acessível seja realidade. Que o agendamento de consultas seja realizado online. Que o monitoramento de doentes crônicos seja realizado à distância. E seja repensado o posicionamento estratégico das mais de 40 unidades de Saúde. Muitos serviços são caros e pouco eficientes. Precisamos reestruturar toda a malha de Saúde.

No quesito da Segurança, quero ter um bom secretário, experiente. Temos pessoas assim em nosso time para reestruturar a pasta. Serra é um município com os maiores índices em crimes como feminicídio e outras agressões contra a mulher, assassinato, guerra de tráfico em alguns bairros. Prefeito, Guarda Municipal e secretário de segurança devem agir de forma integrada com demais polícias para combater a criminalidade e atuar de forma preventiva nas comunidades.

O próximo administrador vai começar a governar com dívidas, já que a atual administração pegou empréstimos que somam R$300 milhões, segundo apontado em debates na Câmara Municipal. Como avalia esta situação?

Não me preocupo muito porque existem dívidas que são ruins e boas. A dívida ruim é onde o dinheiro foi mal gasto. Dívida boa é quando dinheiro foi bem gasto e dinheiro é investimento. Obras estruturantes que vão atrair empresas, empreendedores para Serra e facilitar o parque de infraestrutura. Obras retornam para os cofres públicos através de impostos de quem se sediam na cidade.

Infraestutura é algo benéfico e necessário. Em vários momentos a cidade precisa ousar para voltar a ter ambientes de infraestrutura compatível. Serra está sufocada pelo trânsito. Precisa de investimento em mobilidade. Uma cidade que tem sido a primeira opção para empresas se alojarem não pode ter esse tipo de problema.

Outro problema que o próximo governante terá diz respeito ao empobrecimento da população durante a pandemia do Covid-19. Muitos comerciantes não conseguiram manter seus negócios ao longo da quarentena e fecharam as portas. O número de desemprego vem crescendo assustadoramente. Como idealiza uma política de atração de indústrias e fomento de novos postos de trabalho?

Este problema não é exclusivo da Serra. Precisamos de políticas públicas de fomento ao emprego e renda a nível estadual e nacional. Lógico que o município pode contribuir mas isso ultrapassa a capacidade do governo municipal.

Atrair indústria é importante mas a maioria dos empregos é gerada por pequenas unidades de negócio. Pequenas empresas geram a maioria imensa de empregos. Trazer uma empresa grande que ofereça 500 empregos é importante mas o fomento do pequeno empreendedor transforma realidades. Vamos fazer isso com muita dedicação.

Na área social, que certamente haverá uma grande demanda, o que pretende implantar, tendo a oportunidade de ser prefeito?

Não sou a favor do assistencialismo porque acredito que não leva a nada. Quero atuar na causa raiz dos problemas. Como médico atendi a gerações de mulheres que foram mães aos 15 anos. Então, hoje são avó com 45, mãe com 30, filha com 15 já grávida. Algumas são mães solteiras que viram arrimo de família muito jovens. E assim se perpetua um ciclo de restrição à Educação e à capacitação. Ficam perpetuamente presas à pobreza.

Precisamos mudar isso. Precisamos de educação sexual nas escolas para evitar gravidez precoce e Infância roubada, o que ainda é muito comum. Precisamos apoiar estas mães mas educar as novas gerações para quebrar este ciclo de dependência social e preparar a população para crescimento com mais oportunidades e libertação da pobreza.

Serra é um município grande e ainda há muitos bairros que sofrem sem saneamento e infraestrutura. E em meio a tudo isto, o cenário econômico não é dos mais favoráveis. Que tipo de relacionamento seu partido possui com os governos estadual de Casagrande e federal de Bolsonaro para formar parcerias?

Serra é o maior município do Estado em população e em área, com 500 mil km2. É um gigante que precisa de parcerias com os governos federal e estadual. O PROS é centro, por isso tem capacidade de diálogo com a direita e esquerda. Isso é importante para momentos em que é necessário parceria para infraestrutura para o bairro ou atendimento médico, por exemplo.

Políticos são empregados do povo, receberam o voto de confiança para isto. Governo não tem dinheiro. Todos os recursos que dispõe são arrancados do cidadão com os impostos, sobre produtos taxados. Não é mais que obrigação do gestor público entender isso que o prefeito tem que conversar com o governador e o presidente independente de questões partidárias e ideologias. Nosso diálogo será amplo e irrestrito.

A nova realidade certamente demandará experiência administrativa. O senhor acredita que está sendo responsável colocando sua candidatura neste pleito? Está pronto para assumir todos os problemas que Serra tem e poderá ter a partir do próximo ano?

Por isso coloco meu nome à disposição. Vejo nomes de pessoas sem experiência nenhuma dizendo que quer ser prefeito. Não preciso citar nomes. Precisamos de pessoas com capacidade e experiência administrativa, com projetos consolidados e algo a mostrar para a sociedade. Fiz parte de gestões públicas e privadas. Tenho um time bem montado com pessoas inteligentes e capazes. Tenho doutorado e outros do meu time também. Mais que isso, temos energia, força e juventude. Estamos prontos para transformar o município na Serra 4.0.

Vimos Serra sair da zona rural para industrial. Vimos o comércio chegar. Está na hora da Serra digital, inovadora, que realmente incorpore tecnologia à vida da população. Não faz lógica fila para consulta. 

O mundo viverá um novo normal, após quarentenas e lockdowns. Pensando nisso, que propostas tem para a Educação, sabendo que parte considerável dos estudantes das unidades públicas não tem acesso à internet e computadores, em casa?

A Educação vai ter que ser completamente repensada, o tamanho das turmas, a carga horária. Há muitas possibilidades nos dias atuais com Youtube, Facebook, Instagram, onde o aluno pode receber informação com qualidade. Não tenho dúvidas de que a Educação está recebendo uma transformação nesta pandemia.

Sou professor, tivemos que nos adaptar para oferecer aulas online. Sou professor de unidade pública federal, com alunos que não tem acesso a computador e internet boa. Podemos arrumar empréstimos, pontos fixos e horários de uso para estudo, temos que pensar fora da caixinha, no novo. Com criatividade, podemos fazer Educação com muito mais qualidade que antes da pandemia, da época do giz.

Na sua opinião, quem será o adversário mais forte que poderá enfrentar nas urnas?

Sem dúvidas será o meu colega também médico Sérgio Vidigal. Ele foi prefeito por três vezes já e fez uma mudança importante, estrutural. Ofereceu uma contribuição muito importante para a cidade. Com certeza é o adversário a ser vencido. Vou mostrar que temos condições de fazer Serra melhor do que ele fez.

Sendo eleito, que legado pretende deixar para Serra?

Meu legado será a Serra Digital. Quero deixar as pessoas trabalharem, serem empreendedoras, com acesso à Saúde e Educação, abertura de novas empresas, regularização de empresas e imóveis pelo modo digital. Meu maior legado será a Serra inovadora. A inovação é a mola propulsora para o desenvolvimento. É isso que a gente espera.